Santa Catarina observa a elevação de novas enchentes históricas

Ainda gostamos de comprar móveis à prestação. Pode parecer supérfluo, sim, mas a energia do cheiro de algo novo adornando a casa sempre foi revigorante. Um armário, um sofá, uma cama box com cabeceira de veludo, parcelada em tantas vezes que haja possibilidade, como um estímulo ao despertar dos dias de trabalho, às 4h da manhã. Somos dignos de conforto, quando a rotina do lado de fora da porta quase nos entorta. Há quem nem tire o plástico da embalagem, por meses.

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Também gostamos de reformas. Uma pintura da cor da moda, com texturas que sempre, posteriormente, são consideradas bregas, mas que dá um charme quando tem que dar. E os pisos, e as tomadas com arabescos.

As nossas compras de móveis, assim como nossas reformas, saíram do conforto pela satisfação e adentraram às constantes necessidades obrigatórias. Hoje, em Santa Catarina, vivemos à prestação de quase tudo, principalmente da natureza, como se ela nos cobrasse mensalmente com os últimos ciclones trazendo vendavais agressivos e volumes de chuva históricos; seus juros tornaram-se mais salgados.

Moradoras de Porto União observam elevação do rio Iguaçu que, historicamente, causou estragos no município devido suas as cheias históricas. Foto/Herison Schorr

Nosso estado observa, no silêncio paralisante, as cheias dos rios. As águas sobem e silenciam Santa Catarina pelos traumas já vividos por elas. Quando eles adentram as frestas das portas ao ponto de submergi-las em questão de 5 minutos, faz boiar, pelas janelas à fora, a vivacidade de se ter, ainda que parcelado; nossas próprias vidas e as vidas de famílias, à vista.

E quando pensamos: “sempre foi assim”, o “sempre” e o “assim” pareciam mais distantes, antes. Coisa de antigamente. Quando nossos avós contavam histórias de enchentes que levavam as vacas arrastadas pela correnteza, ou quando subiram nos telhados ao lado dos porcos e do cachorro da família, agarrados aos aos seus filhos, nossos pais. Traumas que marcaram pontualmente cada geração. Neste século, o “sempre” e o “assim” tornaram-se anuais e, ultimamente, mensais; traumas contínuos.

As notícias da Defesa Civil de Santa Catarina tiram, nesta semana, o nosso sono. Há quem já deixou sua casa e os moveis com o carnê recém-impresso; ao retornarem, no acalmar das águas, podem reencontrar, apenas, outras prestações.

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