Bairro do município concentra o maior acúmulo anual de chuva do estado
É do abrir das janelas das primeiras horas do dia que descobrimos: ela ainda está aí. A chuva no Litoral Norte catarinense pauta a rotina dos cerca de 700 mil moradores que vivem em Joinville e nos municípios vizinhos. Como de esperado para o mês de janeiro, desde a tarde do último sábado (20), os temporais vêm ocorrendo com frequência na região, acumulando totais elevados acima de 200 mm nos municípios, chegando a 290 mm em Itapoá, o que ocasionou alagamentos e transtornos. Até este sábado (27), a circulação marítima segue mantendo a umidade na faixa Leste do estado e a condição de chuva frequente, por vezes persistente e com totais elevados no litoral. Essa constância de chuva nesta época do ano gera uma reflexão curiosa: afinal, porque chove tanto?

A região é conhecida por especialistas como sendo a mais chuvosa de Santa Catarina, como comenta a geógrafa especialista em climatologia Yara de Mello, que estuda as chuvas na região desde 2011. Yara analisou em seu doutorado a distribuição de precipitação na região da Serra do Mar de Santa Catarina e sua relação com a orografia.
De acordo com a geógrafa, as chuvas da região, de fato, são mais concentradas nos meses de verão, onde as precipitações podem ultrapassar os 300 mm só no mês de janeiro, como em Garuva. No inverno, há uma diminuição, quando a precipitação pode chegar apenas 90 mm no mês de agosto, período menos chuvoso.
“Desta forma, a distribuição anual de chuvas faz de Garuva um município sem períodos de seca”, destacou.
Yara conta que tinha-se a ideia de que Garuva era o local mais chuvoso de Santa Catarina, mas, na região do bairro Vila Nova, em Joinville, o acúmulo de chuva é ainda maior. A pesquisadora explica que há fatores fundamentais que contribuem para o excesso de chuva na região, como a Serra do Mar que torna-se uma espécie de barreira para as nuvens que chegam do mar e do Sul.
“Por a Serra ser muito próxima do mar, a circulação marítima é barrada por ela, o barlavento (lado para onde o vento sopra) da serra é muito mais úmido”, acrescenta.
Também por conta da serra, Itapoá é a cidade litorânea mais chuvosa do estado e, ainda por influência da serra, a precipitação de chuva nos municípios do Planalto Norte, como Campo Alegre, localizado no sotavento, (lado da serra por onde sai o vento) cai pela metade, comparado as suas vizinhas, Garuva e Joinville.
Além da Serra do Mar, há outros fatores que, também, influenciam no excesso de chuva na região de Joinville. Segundo a pesquisadora, os ventos predominantes na região sopram de Leste trazendo umidade do Oceano Atlântico, causando, além de chuvas, a nebulosidade. Com a chegada da frente fria e da massa de ar polar, os ventos passam a soprar, também, de Sudeste e Nordeste.
”Com uma trajetória marítima, devido nossas latitudes, os sistemas distribuem umidade para a região”, afirma.
De acordo com Yara, a região mais chuvosa do Brasil é o Noroeste da Bacia Amazônica, com 4000 mm ao ano, seguida da região da Serra do Mar, que vai do Nordeste de Santa Catarina ao estado do Rio de Janeiro.
Texto: Herison Schorr. Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc
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