Tudo começou com uma leve dor de cabeça, no dia 2 de maio de 2022. Algo que passou despercebido pela servidora pública do Estado, Michele Silveira de Souza, de 44 anos, moradora de Garuva, Norte de Santa Catarina. Três dias depois, após o início das dores de cabeça, a servidora é submetida a uma cirurgia nos seios, marcada em Curitiba. Ao chegar no hospital, Michele observou que as dores se intensificaram e sua pressão estava alterada. De acordo com o anestesista, as manifestações de seu corpo seriam resultantes da ansiedade em fazer o procedimento cirúrgico.
Ao passar pela cirurgia, voltou para casa no dia seguinte, quando outros sintomas começaram a se manifestar pelo corpo. “Fortes dores de cabeça, vômitos constantes; nada parava no estômago, nem mesmo água; febre e muita fraqueza”, afirmou.

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Nos dias que se sucederam, não suportando as fortes dores, buscou por atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento onde o médico suspeitou de que Michele estaria sofrendo com algum tipo de infecção devido à cirurgia. Um hemograma foi realizado, constatando que seu nível de plaquetas estava baixo, o que poderia ocasionar em hemorragia pelos pontos da operação que havia feito.
Ainda sofrendo com as constantes dores, a servidora retornou ao hospital onde havia feito a cirurgia, e foi submetida ao teste para dengue, e o resultado deu positivo.
“Foi a primeira vez que peguei (dengue). Pra mim, foi pior de quando peguei covid. Se eu tivesse em uma situação de saúde, sem a cirurgia, acredito que não teria sido, assim, tão grave”, destacou. Naquele período, seu município vivia uma epidemia histórica de dengue.

Michele Souza, durante fase de recuperação da dengue. Foto/Acervo
Devido à doença, edemas surgiram entre os pontos que abriram, o que ocasionou hemorragias no local da cirurgia, que tornaram-se frequentes com a perda de muito sangue, prejudicando sua recuperação e deixando-a acamada por dias, pela fraqueza que sentia. Segundo Michele, seu médico explicou que a doença agravou-se, tornando-se hemorrágica, devido as medicações que tomou, sem saber que era dengue.
Após completar um mês dos primeiros sintomas, já recuperada, a catarinense afirmou que teve momentos onde pensou que não iria suportar o quadro. “Com certeza, pensei, sim. Teve um dia, mesmo, que não iria aguentar, porque estava sangrando muito e muito fraca”, lembrou. Para Michele, a dengue é uma doença séria, que precisa ser vista com mais rigor. “Tenho pavor de pernilongo depois disso”, completou.
Como a dengue reage em nosso corpo?
Emmanuelle Reis atua como médica na rede municipal de Saúde, em Santa Catarina, e explica os sintomas mais comuns da dengue. São eles: febre alta de início súbito, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor no corpo e nas articulações, prostração, falta de apetite, náuseas, vômitos, e exantema – um “grosseirão” – (no popular) geralmente no rosto, tronco e membros, sem poupar palmas das mãos e plantas dos pés, podendo dar muita coceira.
“Geralmente, esse grosseirão aparece quando a febre passa, complementa. Outro efeito típico da doença é o cansaço que surge quando a infecção desaparece.
A médica acrescenta que deve-se ter atenção maior com gestantes, idosos e crianças, diabéticos, portadores de asma e anemia falciforme, pois são grupos e fatores de risco para maior gravidade da doença.
Ela comenta que há quatro sorotipos do vírus da dengue e a imunidade é permanente para cada sorotipo. Entretanto, quando há imunidade cruzada (quando a pessoa é infectada por um sorotipo e gera imunidade com sorotipos diferentes do infectado) ela pode durar, apenas, três meses.
“Este medicamento não é recomendado em caso de suspeita de dengue”
Essa é uma frase que costumamos ouvir pela TV em propagandas de medicamentos, mas, que, até então, passava despercebida. A busca por medicamentos para diminuir os sintomas da dengue pode tornar-se algo perigoso quando há a automedicação, podendo agravar a doença.
Emmanuelle explica que, para o tratamento da dengue, não há, de fato, um tratamento específico, e é receitado medicamentos apenas para amenizar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos, dando preferência ao Paracetamol e, ou, Dipirona. A médica ressalta que o vírus da dengue infecta células responsáveis pela formação de células de defesa e sanguíneas e pelo metabolismo do ferro.

Mosquito Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. Foto/Internet
“Então, a gente evita dar qualquer medicamento que possa interferir no funcionamento da medula óssea, baixando plaquetas ou células de defesa, pois isso pode ser sinal de gravidade na dengue”, complementa.
Emmanuelle enfatiza que é de extremo perigo o uso de medicações à base de ácido acetilsalicílico (o AAS) e anti-inflamatórios, comumente presentes em caixinhas de remédios das famílias.
“Essas medicações costumam baixar os níveis das plaquetas, células responsáveis pela coagulação do nosso sangue. Na dengue, costuma ocorrer uma diminuição na contagem dessas células, podendo ocorrer sangramentos. Se a pessoa faz uso dessas medicações, pode agravar (e muito) o quadro”, alertou.Leia também: A histórica epidemia de dengue em Florianópolis, no século XIX
Texto: Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc
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