Há cerca de 5 anos, Garuva recebia um novo e pequeno morador, vindo de Maringá (PR). De lá, Marco Aurélio Wisenfad Pinto, hoje com 12 anos, e diagnosticado com autismo, trouxe a fascinação por tudo o que é antigo e faz parte da nossa história.

Como fazia na cidade natal, iniciou sua peregrinação em museus da região, e frustrou-se por ainda não existir um no município que tornou-se sua morada. Perseverante, a vontade de descobrir a história da cidade chegou aos ouvidos de sua professora Nane Palandi, a qual, lhe deu um livro que tornou-se caminhos para desvendar o passado de Garuva.
O redescobrimento da nossa história
Ao folhear o livro Porto Barrancos Berço de Garuva, escrito pelo professor e historiador Gleison Vieira, Marco descobria a cada página que a história de Garuva era, de fato, fascinante e começava antes que imaginava, com os primeiros habitantes desta região.

“A história é muito antiga, tem mais coisas que da cidade onde eu vim. Falam que é de 63 a fundação, mas foram achados sambaquis com mais de 5 mil anos”, afirmou.
Ao terminar de ler a obra, sentiu-se instigado em transformar o livro em um verdadeiro mapa ao tesouro, que o levou para vivenciar os locais descritos nas cenas do passado do município, e resgatar verdadeiros achados.
Com o livro em mãos, o menino convidou sua família para uma verdadeira pesquisa em campo, começando em Barrancos, localidade de Garuva que, como o próprio nome do livro já diz, é o berço da história do município. Na localidade, banhada pelo rio Palmital, Marco decifrou o mapa presente no livro para descobrir o local exato que abrigou um dos casarões mais imponentes da história de Garuva.

Sob as ruínas da nossa história
Considerado um monumento que simbolizou a tentativa de uma colonização francesa em Garuva, hoje, o sobrado Paix, construído na década de 20 pelo francês Monsieur Edmond Paix, existe apenas em fotografias e nas memórias dos habitantes que ali moravam. No local, há apenas as palmeiras que bordeavam a entrada do espaço, elas serviram para Marco e sua família localizarem-se na busca pelas ruínas do casarão.

Na tentativa de encontrar qualquer resquício daquela antiga obra, Marco deparou-se com um pedaço de tijolo. Ele garante que o material fazia parte do casarão.

Com aquele pequeno fragmento diante do que um dia foi um sobrado, o menino observou uma história que vem se repetindo em Garuva: a destruição do patrimônio histórico do município. Durante a leitura do livro, desenvolveu uma habilidade para construir réplicas dos casarões históricos presentes na obra, porém, poucos ainda restam em pé.
No local onde ainda resistia uma das últimas casas antigas derrubadas em Garuva, Marco encontrou uma telha partida. Dela, decifrou inúmeros enigmas, como sua datação, aproximada do início do século XX, devido à descrição presente nela, como o nome “Villa Garuva”, de uma época onde a grafia da língua portuguesa ainda usava dois Ls.

Outra pesquisa que realizou foi sobre as duas casas enxaimel que ainda há em Garuva, reflexos da colonização alemã que também é apreciada pelas pesquisas do menino. Em uma visita a Joinville, Marco ganhou um livro da década de 20 em língua alemã que descrevia sobre a imigração dos alemães em Santa Catarina. Nele, encontrou uma menção sobre a região onde atualmente é Garuva, com a ocupação dos imigrantes alemães na localidade de Três Barras.
A árvore que dá nome
Quando chegou em Garuva, Marco acreditava que o nome do município era uma sintetização da palavra “garoa” devido às constantes chuvas que caem por aqui. Porém, durante a leitura do livro, descobriu que a cidade ganhou o nome de uma árvore que era abundante na mata local: a canela-garuva. A nova descoberta levou Marco e sua família para uma nova busca. Próximo do Dia das Crianças, o menino não pensou duas vezes no pedido do que gostaria de ganhar na data festiva.

Com a ajuda da professora Nane, a família iniciou uma busca, primeiramente pelo Facebook, com o pedido do menino. Não demorou muito para surgir um morador que cultivava a espécie em sua casa e presenteou Marco com duas mudas, plantadas no fundo de sua casa e na Escola Municipal Içá Mirim.
Com o achado das mudas da célebre árvore em uma estufa, e não na natureza como deveria, Marco observou uma segunda constatação: a necessidade da preservação das matas garuvenses.
O futuro daqui
Quando mencionado sobre como vê o futuro de Garuva, que hoje completa 58 anos de emancipação política, Marco se apega ao passado e ao presente para destacar um alerta. “Eles deveriam cuidar bem das árvores e também do patrimônio histórico, porque estão sendo demolidos”, ressaltou.

Enquanto tenta criar seu próprio museu com os fragmentos abandonados da história de Garuva, o menino aguarda ansioso a criação do museu municipal, prometido para ele em uma visita à Prefeitura. Ainda sobre o futuro, o menino colecionador deseja fazer um documentário sobre nossa história.
Texto: Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc
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