O Folha Norte SC está de despedida. Após cinco anos de atuação no Norte catarinense, o jornal passará por grandes transformações, como a mudança de seu nome; a abordagem jornalística e a abrangência.
Herison Schorr, administrador e jornalista do Folha Norte SC, conta que as mudanças do jornal refletem uma nova fase de sua vida com a descoberta do autismo nível 1 de suporte.

“Receber o diagnóstico de autismo foi como um renascimento, agora, com uma noção mais clara do que sou. Como meu trabalho é ligado inteiramente a mim, à medida que me transformo, ele também, se reinventa”.
Heris
Um apelido de infância que se tornará em uma marca. O jornalista conta que Heris, o novo nome do Folha Norte SC, é a essência da nova proposta jornalística. Durante a elaboração do laudo, ele recorda que fez uma viagem à infância. Uma infância autista, mas sem o diagnóstico. De lá, agora, traz um novo olhar sobre o seu presente e futuro.

“O jornal Heris será uma proposta jornalística diferente, onde as pessoas terão a oportunidade de conhecer o mundo através das percepções de uma pessoa autista. Os assuntos que serão abordados por mim seguirão uma linha editorial próxima ao que já fazia no Folha Norte SC, mas de uma forma mais refinada, direta”, afirmou.
A perspectiva, segundo Herison, é que o jornal deixe de ser uma veículo de comunicação local e passe a abranger todo o território brasileiro, ainda que apresente aos leitores nacionais temas presentes em Santa Catarina.

Os hiperfocos que pautaram o Folha Norte SC
O jornalista revela que não imaginava que um dos temas mais abordados por ele no Folha Norte SC, na verdade, era um hiperfoco que trazia desde à infância: o comportamento humano. Um tema identificado por sua neuropsicóloga e pelo seu neurologista.
“Estudo o comportamento dos seres vivos desde os meus dois anos de idade. Sempre houve fascínio em querer identificar o porquê de tanto afeto entre genitores e filhotes. Aos cinco anos, fiz um desenho sequencial na agenda do meu pai, no dia que descobri em uma família de galináceos, finalmente, que eu era um filhote, mas de ser humano. Isso foi reconfortante, pois me sentia deslocado do mundo em volta de mim, como se não fizesse parte nele. Na fase adulta, esse fascínio pelas relações de pais e filhos se estenderam às inúmeras reportagens que fiz sobre o assunto, saindo do enredo desenhado para o enredo escrito. Quando Garuva viu seu nome repercutir com inúmeras histórias das famílias do município, a população estava vivenciando o resultado do hiperfoco de um jornalista autista, afinal, hiperfocos também têm serventias”.


A causa autista
Herison comenta que o jornal, primordialmente, será voltado para a causa TEA, apresentando propostas que visam o bem-estar da pessoa autista, mas, também, da população em geral.
“Tenho muitas experiências, às quais irei expor como uma possibilidade de gerar reflexão e mudanças. A causa autista ainda engatinha. Vejo muitas injustiças ocorrendo por todo o país, principalmente, no que diz respeito à discriminação e segregação de pessoas com essa condição, tanto na escola, na infância, como no mercado de trabalho, na vida adulta. Passei, e ainda passo, por algumas dessas situações dolorosas, mas, agora, com a possibilidade de contá-las, por eles e por mim”.
Uma nova linguagem jornalítica
Bom, como parte do processo de mudanças do Folha Norte SC outra adequação será aplicada ao novo jornal, e vou contar isso, para vocês, agora. Percebem que o início do texto foi escrito em terceira pessoa? Uma voz oculta atrás da parede, que não se sabe de onde vem, mas que acompanhou vocês durante todos esses anos, contando histórias sobre a nossa gente. (Por favor. Peço que, se for para imaginar uma voz, que seja a voz do Cid Moreira. Um dia chego lá. Obrigado) E, agora, de repente, talvez, um sutil choque, como se a voz ganhasse personalidade, vida.
Essa nova linguagem mais pessoal e direta, advinda de uma primeira pessoa, no caso, eu, Herison Schorr, é uma proposta que gostaria de começar com vocês, meus leitores, para que possamos estreitar nossos laços. É importante, para mim, essa aproximação; faz parte do meu processo de transformação e acredito que será mais fácil, dentro das minhas limitações de interação, uma abordagem mais informal, sem a estruturação desestimulante da notícia padrão. Também acredito que a linguagem popular seja mais fácil de ser entendida por todas as pessoas, pois todas são preciosas para mim.
Quero que saibam que esse movimento de retorno está se tornando meu primeiro desafio. Vir à luz da sociedade, novamente, após um tempo de reclusão e autoconhecimento é uma mistura de renovação e desconforto. Mas eu me apego ao sentimento de gratidão que tenho a vocês, leitores, que sempre estiveram ao meu lado durante esse tempo. Passamos por momentos desafiadores, e ainda estamos aqui. Ainda estou aqui, agora, como um novo propósito de vida.
Gostaria que você enviesse este texto para outras pessoas, principalmente, famílias azuis, que lutam pelo bem-estar de seus filhos e filhas autistas, pois espero me tornar um aliado da causa. Obrigado!
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