Ao caminhar pelo salão do restaurante Terraço Lisboa Bistrô que, atualmente, disponibiliza um espaço para 120 clientes, a empresária Neide de Souza Lisboa, de 63 anos, reafirma orgulhosa o “sim” dito num momento decisivo em sua vida, resultando numa virada de chave no auge dos seus 50 anos, após a aposentadoria, como um novo cardápio de possibilidades, montado com os melhores ingredientes para dar outro sentido à vida. Os principais temperos? Resiliência e ousadia. Segundo a empresária, o Sebrae foi fundamental para o fortalecimento do restaurante.
A delicadeza que se alterna, de toque perfeito, com a intensidade dos sabores. A estruturação dos pratos que se confundem com a louça escolhida criteriosamente, transformando-os em harmonia artística. E, claro, o envelhecido e indispensável vinho tinto. O charmoso restaurante Terraço Lisboa Bistrô, em Bananeiras, traz em seu nome o legado da piauiense Neide de Souza Lisboa, de 63 anos.
Terraço Lisboa Bistrô, em Bananeiras. Foto/Acervo
Ao caminhar pelo salão que, atualmente, disponibiliza um espaço para 120 clientes, a empresária reafirma orgulhosa o “sim” dito num momento decisivo em sua vida, resultando numa virada de chave no auge dos seus 50 anos, após a aposentadoria, como um novo cardápio de possibilidades, montado com os melhores ingredientes para dar outro sentido à vida. Os principais temperos? Resiliência e ousadia.
Com 14 funcionários, dentre cozinheiros e garçons, Neide, hoje, orienta a dinâmica do seu restaurante onde atuou durante 12 anos como chefe de cozinha. Conferindo os temperos do Filé à Terraço Lisboa, prato mais pedido da casa, a piauiense resgata nos sabores da infância a origem do primeiro amor pela gastronomia.
Neide de Souza Lisboa abriu seu restaurante aos 50 anos, após se aposentar. Foto/Acervo
“Na minha infância, eu sempre vi minha mãe cozinhando comidas gostosas, recebíamos familiares e amigos, achava muito bonito aquele gesto, via que ela fazia com muito gosto. Naquela ocasião não me passava pela cabeça que iria cozinhar profissionalmente”, revelou em entrevista à Míra Mirá Brasil Paraíba.
Neide é um exemplo entre os brasileiros que optam por uma nova profissão após a aposentadoria, buscando na juventude desejos de empreender, que ficaram guardados durante décadas.
Aprendendo com os pais a arte de empreender
Filha de comerciantes, a piauense descobriu, ainda na infância, os sabores do trabalho na mercearia e na sorveteria que seus pais abriram no bairro Pindorama, município de Parnaiba, Piauí. Desde cedo, Neide identificava na família uma habilidade ímpar para cativar os clientes, ao ponto de ver o patriarca seguir outros rumos que, também, necessitam de uma boa persuasão. “Meu pai seguiu a carreira política e deixou o comércio; mas, minha mãe continuou, ela tinha o tino comercial, foi bem próspera”, destacou.
Atualmente, o Terraço Lisboa Bistrô disponibiliza um espaço para 120 clientes. Foto/Acervo
Aos 20 anos de idade, Neide conta que foi aprovada em um concurso público na Caixa Federal, em João Pessoa, Paraíba, onde atuou por 25 anos como executiva. “Meu trabalho era bem gratificante e desafiador, o que me motivava a permanecer até a aposentadoria”, contou.
Nesse período, a empresária conta que a gastronomia fazia parte de sua vida, mas, apenas como um hobbie, ainda que não imaginasse que o futuro lhe aguardava com a abertura de um requintado restaurante.
Aposentei. E agora?
Aos 50 anos, a aposentadoria fez-se presente na vida da funcionária pública. O que se acredita sobre as intenções de um recém-aposentado é que ele procure por descanso. Foi o que Neide buscou para si ao mudar-se para a tranquilidade de Bananeiras em 2012, longe das papeladas, escritórios e do trânsito da capital paraibana.
Mas, algo era preparado atrás do balcão da vida da piauiense. Ainda faltando dois anos para se aposentar, voluntariamente, Neide conta que começou a estudar, em casa, sobre a diversidade da gastronomia. “Investi em vários livros e cursos, queria conhecer a realidade do mercado de alimentação fora do lar”, afirmou.
Faltando dois anos para se aposentar, voluntariamente, Neide conta que começou a estudar, em casa, sobre a diversidade da gastronomia. Foto/Acervo
Ao notar que Bananeiras não possuía um restaurante, um pensamento ousado surgiu. “A gente enxergou uma oportunidade de negócio de receber clientes para a alimentação. Aqui na cidade, não tinha nada. Aí a gente abriu esse restaurante no formato que eu queria, para cozinhar para os amigos”, descreveu. A ideia foi vista, de acordo com a empresária, como ousada demais por esses amigos, principalmente, pelo grande investimento em uma cidade, naquela época, pouco conhecida.
“Todo mundo me chamando de louca. Abrir restaurante num lugar onde não tinha cliente!”, brincou.
Mas a família não pensou duas vezes. Tomado pela ousadia da mãe da casa, os Lisboas entraram na cozinha para apoiar o sonho de Neide. “Principalmente meu esposo e meu filho mais velho, que é meu sócio na empresa”, destacou.
Novo negócio; novo desafio de vida
Neide admite que o início foi difícil. Nos primeiros dois anos trabalhou, apenas, para cobrir os custos. Bananeiras, apesar do potencial turístico, principalmente nos meses de frio, ainda não fazia parte dos roteiros de um estado conhecido apenas pelos atrativos do calor. “Mas a insistência, a persistência, foi o que me moveu; fiquei muito focada no que ia acontecer”, acreditou.
A empresária lembra que teve na fome a na curiosidade dos amigos os primeiros clientes do seu pequeno restaurante. Aos poucos, as notícias da comida boa de seu negócio foi chegando aos ouvidos de outros novos clientes, à medida que a Rota do Frio ganhou os noticiários, favorecendo o turismo do município. “Começou a agradar a clientela que vinha e voltava”, comentou.
Charmoso restaurante Terraço Lisboa Bistrô, em Bananeiras, traz em seu nome o legado da piauiense Neide de Souza Lisboa, de 63 anos. Foto/Acervo
Atualmente, o negócio que começou com, apenas, 10 mesas, se fortaleceu. Deixando uma marca registrada em Bananeiras e atraindo cada vez mais clientes, proporcionando à piauiense investimentos para ampliar o restaurante Terraço Lisboa Bistrô por três vezes, desde sua fundação.
A empresária enfatiza que nunca pensou em desistir. “Até, porque, eu não sou de desistir dos meus sonhos”, afirmou.
Sebrae e o apoio aos negócios
Neide ressalta que procurou o Sebrae ainda na fase de planejamento, para fazer o plano de negócios. “Fui capacitada por um especialista sobre o tema de como montar um negócio”, afirmou sobre as orientações que seguiu à risca, dedicando-se para que a empresa prosperasse e, assim, atravessar os dois primeiros anos até o 13º aniversário do restaurante.
Segundo a empresária, a entidade foi fundamental para o fortalecimento do restaurante, desde o início. Os funcionários da agência, inclusive, participaram da inauguração do Bistrô. A piauiense comemora a parceria, e revela que não perde um curso oferecido pelo Sebrae de Guarabira.
“O Sebrae está do lado do empreendedor, mesmo”, acrescentou, agradecida pelo apoio.
Estruturação dos pratos que se confundem com a louça escolhida criteriosamente, transformando-os em harmonia artística. Foto/Acervo
O que nos espera depois dos 50!
Sem previsão de deixar sua função no restaurante, Neide identifica, otimista, o sentimento de juventude que sempre esteve presente em sua vida, um tempero fundamental para a longevidade.
“Me aposentei por tempo de serviço, mas me sentia muito jovem e com muita energia para ficar sem uma atividade desafiadora, então pensei em estudar gastronomia e abrir um restaurante”, contou sobre a iniciativa de recomeçar uma nova carreira, por completo.
Para a empresária, a aposentadoria é só o fim de um ciclo das nossas vidas, assim como outros ciclos que se fecham, como a criação dos filhos, exemplificou. Mas há outros que se abrem.
“Nossos sonhos continuam, e só os realizaremos nos movendo em busca da sua concretização”, afirmou.
Quatro passos para virar a chave após a aposentadoria
À Míra Mirá Brasil Paraíba, Neide listou quatro passos para quem desejar transformar sua vida após a aposentadoria; confira:
Primeiro passo: Planejar o que queremos fazer; se tentarem uma nova profissão, seja qual for, o que importa é se vai nos dar prazer;
Segundo: Procurar a capacitação necessária para superar os desafios que virão pela frente;
Terceiro: Ser persistente, não desistir; os obstáculos serão muitos;
Quarto: Ter coragem e vontade, pois sem vontade não se consegue nada. Não fique só sonhando!
Iniciativas do Sebrae para os negócios na terceira idade
Regina Amorim, gestora de turismo e economia criativa do Sebrae Paraíba, traz com o Novo Mapa da Vida, produzido pelo Centro de Longevidade da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, uma reflexão sobre o estudo que afirma: uma das transformações mais profundas da experiência humana exige mudança de mentalidade, mudança de paradigma, mudanças criativas, nas maneiras que conduzir os 100 anos de vida.
“Nas atividades econômicas há uma gama de possibilidades e oportunidades de negócios para atender à população acima de 60 anos. Uma boa experiência em qualquer atividade econômica pode levar a uma maior satisfação, confiança e lealdade, o que pode resultar em mais indicações e mais retorno de clientes. Qualquer que seja a mudança, ela pode ser libertadora”, afirmou a gestora.
Regina Amorim é gestora de turismo e economia criativa do Sebrae Paraíba e acredita, otimista, na iniciativa de negócios após os 60 anos. Foto/Acervo
Segundo Regina, para ser empreendedor não tem idade, o importante é acreditar, fazer o que lhe é prazeroso, sem ter foco apenas no lucro.
“O lucro vai ser o resultado de uma atividade econômica que atende ao perfil de um público consumidor, que tem criatividade e boas parcerias com a cultura do lugar”, destacou.
Entre os princípios fundamentais, a gestora enfatiza que está o de trabalhar mais anos, com mais flexibilidade para cuidar da saúde, viver com propósito e celebrar a vida. Fazer o que gosta e trabalhar no que se quer, são fatores importantes para melhorar a qualidade de vida.
“Vender produtos e serviços relacionados a hobbies, prestar serviços especializados da sua área de conhecimento, criar uma academia especializada para o público 60+, além de franquias especializadas em serviços para 60+, consumindo ou abrindo negócios nesse mercado em ascensão”, descreveu.
Empreendedores 50+: um novo olhar sobre o futuro
“Empreendedores 50+ é o futuro do Brasil”, otimizou, Regina, em resposta à Míra Mirá Brasil Paraíba. De acordo com os dados apresentados pela gestora, no Brasil, 7,3% dos empreendedores têm mais de 65 anos. “É na maturidade que estes empreendedores encontram a realização que buscaram durante toda a vida”, reiterou.
Outros dados levantados por Regina corrobora com a perspectiva positiva dos negócios na terceira idade:
“O Monitor Global de Empreendedorismo (GEM) 2023, do Sebrae, apontou que quase 18% dos negócios com mais de três anos e meio no Brasil são geridos por empreendedores entre 55 e 64 anos. Já o Ipea aponta que até 2040 metade da força de trabalho no Brasil terá mais de 50 anos. E o estudo Towards a Longevity Dividend afirma que existe uma relação direta entre longevidade e produtividade no trabalho da geração 60+”, listou.
Regina comenta que esse segmento populacional é composto de pessoas mais comprometidas com o trabalho, além de mais rápidas e seguras para tomar decisões.
“Esta faixa etária da população tende a estar mais conectada à internet e redes sociais, consumindo mais informações, serviços e produtos. A probabilidade de sucesso do empreendedor só aumenta com a idade. Uma empresa fundada por alguém com 50 anos tem duas vezes mais chance de se transformar em uma empresa bem-sucedida do que uma fundada por alguém com 30 anos”, informou.
Texto: Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc