Segundo os agentes, falta de informação sobre o que é o Censo e para que serve tornou-se uma dúvida comum entre a população
O Censo 2022 começou em todo o Brasil no dia 1 de agosto. Em Garuva, não foi diferente. Doze recenseadores trabalham há 17 dias coletando informações da população. Dentre as visitas, os trabalhadores observam duas realidades opostas nos lares garuvenses: a receptividade e o repelimento. Mas, em consenso geral da equipe, um fato tornou-se mais constatado: a falta de informação sobre o que é a pesquisa e o seu propósito.

A recenseadora Thamara Rubian levanta a questão afirmando que a divulgação sobre a atuação do Censo em Garuva não cumpriu com seu objetivo, sentindo na prática o resultado do que ela considerou como pouca informação. “70% das casas que recenseei não sabiam o que era o Censo”, revelou. O diagnóstico também é observado por outros colegas de pesquisa.
“Sim, de fato, pouquíssimas pessoas sabem o que é o Censo. Tive bastante dificuldade no meu setor, porque muitas pessoas ficavam com medo ou bem desconfiadas por causa da falta de informação”, complementou Rosilene Leal.
“Realmente, porque todo mundo pergunta: ‘Qual a importância?’ ‘Por que tem que responder, e se é importante?'”, tornaram-se os questionamentos mais comuns da população, segundo Maria Eduarda Proença.
Outro fato curioso constatado pelos recenseadores é a falta de informação sobre os indivíduos da própria família. “Uns 20% da população não sabem nem a data de nascimento dos filhos, ou maridos e etc… Isso dá divergência em nosso trabalho, também”, explicou Thamara.
Resistência da população para responder os questionários
Uma prática que tornou-se comum em Garuva, vista pelos recenseadores, é a resistência da população para responder os questionários, com incontáveis desculpas e, até mesmo, a não recepção aos coletores dos dados, que precisam driblar a presença constante de cachorros.

“Mesmo estando em casa, com a casa toda aberta, não abrem a porta, não atendem, e olha que eu fico uns 15 minutos insistindo em cada casa, batendo palma”, comenta a recenseadora sobre parte da população do próprio bairro onde vive. Quando atendem, a profissional lamenta que também há a falta de compromisso para repassar as informações corretas, por meio do simples ato de buscá-las em documentos, o que, segundo ela, não fazem.
E os desafios dos recenseadores de Garuva não param por aí. “Passei por uma casa onde a mulher falou que não podia atender, e o filho não gostava de conversar com os outros, então, não podia me atender; e tem donos de apartamentos brigando com os inquilinos por deixarem a gente entrar”, revelou Eduarda.
O fato mais inusitado entre os colegas de trabalho chamou a atenção da equipe “Uma mulher do meu setor, depois de muita insistência, me atendeu, e, quando atendeu, disse que só responderia o questionário com ordem judicial”, contou Rosilene.
As boas-vindas aos recenseadores
Convites para um cafezinho, água, bolo e até sorvete. Os pesquisadores puderam, também, ter contato direto com a receptividade da comunidade de Garuva, com destaque para a população idosa que costuma esperar os trabalhadores no portão de casa.
“Muitos atendem por atender, outros estavam cientes e atendem muito bem. Muitos convites para café da tarde e manhã foram recusados, tudo para eu era rapidinho”, contou Claudia Jelonscheck, humorada.
“Teve uma mulher que falou para, sempre que eu tiver com sede ou cansada, bater ali no trabalho dela, que eu podia tomar uma água e descansar ali”, complementou Maria Eduarda, agradecida pela gentileza.
“Algumas senhoras já esperando na varanda, até ganhei muda de flores, me ofereceram até sorvete, muitas me chamaram pra sentar, deram água. Ontem, teve uma senhora que até espantou os cachorros pra eu chegar na casa do vizinho. Dei boas risadas, também. Posso dizer que 80% me receberam bem”, mostrou Thamara o outro lado de sua rotina de trabalho.
“Já ganhei café, água, chocolate; já me ofereceram almoço, até buchada de bode. Já fui ofendida, aí a pessoa, depois, veio pedir desculpas e me deu chocolate. Já corri de cachorro; teve gente me esperando no portão, me parando na rua perguntando quando eu ia fazer a visita na sua casa, falando o horário estaria em casa”, listou Célia Regina de Oliveira sobre suas experiências com a população do bairro Vila Trevo
Os profissionais comentam que, na maioria dos casos, a familiaridade da comunidade com o recenseador favorece na coleta dos dados, facilitando o trabalho; porém, a essa proximidade poderia ser seguida por toda a população, que tem acesso à identidade do recenseador no site do IBGE por meio do código exposto atrás de seu crachá.

“Estou fazendo a Vila Trevo. Posso dizer que fui e estou sendo bem recebida por todos, apesar de algumas situações adversas. Para mim, facilitou um pouco, pois tenho um irmão que tem um comércio no local, aí já é bem conhecido. Quando falo que é meu irmão, então o povo fica mais seguro em me receber”, explicou Célia.
Para que serve o Censo?
O Censo 2022 vai ajudar cada um de nós a conhecer melhor o País, nossos estados e, principalmente, nossos municípios, segundo afirma o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os resultados do Censo 2022 vão refletir a realidade brasileira, fornecendo o retrato do Brasil num determinado período de tempo. Seus dados serão utilizados em programas e projetos que vão contribuir para:
- acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e a evolução das características da população ao longo do tempo;
- identificar áreas de investimentos prioritários em saúde, educação, habitação, transportes, energia e programas de assistência a crianças, jovens e idosos;
- selecionar locais que necessitam de programas de estímulo ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social;
- fornecer referências para as projeções populacionais com base nas quais é definida a representação política no País, indicando o número de deputados federais, deputados estaduais e vereadores de cada estado e município; e
- fornecer subsídios ao Tribunal de Contas da União para o estabelecimento das cotas do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios.
Mas não é só o governo que se beneficia dos dados do Censo Demográfico. A sociedade também pode fazer uso de seus resultados:
- na seleção de locais para a instalação de fábricas, supermercados, shopping centers, escolas, creches, cinemas, restaurantes, lojas;
- na análise do perfil da mão-de-obra brasileira, instrumento fundamental para sindicatos, associações profissionais e entidades de classe;
- na análise acadêmica do perfil sociodemográfico e econômico da população e sua evolução entre 2010 e 2022; e
- na reivindicação dos cidadãos por maior atenção do governo municipal ou estadual para problemas específicos, expansão da rede de água e esgoto, expansão da rede telefônica, acesso à internet etc.
São inúmeros os usos que um país pode fazer dos resultados de um Censo Demográfico. Ajude a compor um retrato o mais fiel possível da população brasileira em 2022. De sua participação dependem milhares de investimentos públicos e privado
Você sabia? Se recusar a responder as perguntas pode gerar multa
De acordo com a Lei nº 5.534 de 14 de novembro de 1968 e com o Decreto nº 73.177, de 20 de novembro de 1973, toda pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, é obrigada a prestar as informações solicitadas pelo IBGE de forma correta.
A legislação determina ainda a multa de até dez vezes o maior salário-mínimo vigente no país, se o infrator for primário; e de até o dobro desse limite, quando reincidente.
O pagamento da multa não exonera o infrator da obrigação de prestar as informações dentro do prazo fixado no auto de infração que for lavrado, mas o pagamento poderá ser dispensado se as informações forem prestadas pelo infrator primário.
A lei também assegura o sigilo das informações prestadas. Elas serão usadas exclusivamente para fins estatísticos. Não podem ser usadas como prova em processo administrativo, fiscal e judicial, ou para qualquer outra finalidade.
O IBGE coleta informações apenas para fins estatísticos. Isso quer dizer que suas respostas serão desidentificadas e combinadas com informações prestadas por outros milhares de domicílios ou empresas, de forma agregada, gerando o resultado final da pesquisa. Sendo assim, suas informações não serão divulgadas de forma individualizada ou em qualquer formato que possa levar à sua identificação.
“Todas as informações coletadas são confidenciais, protegidas por sigilo e usadas exclusivamente para fins estatísticos, conforme estabelece a legislação pertinente: Lei nº 5.534/68, Lei nº 5.878/73 e o Decreto nº 73.177/73”, afirma a entidade.
O questionário precisa ser respondido presencialmente?
No Censo 2022, além da coleta presencial, será possível responder ao Censo também pelo telefone ou optar pelo autopreenchimento via internet.
Em qualquer situação, entretanto, será preciso que o recenseador visite o domicílio, para captar a coordenada e fazer o contato com o morador, segundo explicou o responsável pelo projeto técnico do Censo 2022, Luciano Duarte, em entrevista ao G1
A entrevista por telefone também será utilizada para aqueles que optarem pelo autopreenchimento pela internet, mas não concluírem o questionário. Para isso, o IBGE terá uma central telefônica exclusiva, o Centro de Apoio ao Censo (CAC), disponível via 0800 721 8181.
Caso o recenseador não encontre o morador na primeira visita, ele deixará um bloco de recado ou tentará o contato por telefone. Além disso, o recenseador deverá retornar ao domicílio, no mínimo, mais quatro vezes, sendo que uma obrigatoriamente em turno alternativo.
A operação prevê ainda que o supervisor de cada área retornará aos domicílios com morador ausente ou com recusa expressa e entregará uma carta de notificação, contendo um e-ticket válido por dez dias para o preenchimento pela internet. “É a última tentativa e, se não houver resposta, não há retorno e o domicílio será posteriormente tratado estatisticamente”, explicou Duarte.
Mais informações
O escritório do Censo em Garuva está localizado na Associação Empresarial de Garuva, onde pode ser visitado para a busca de mais informações.
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Texto: Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc