Após fazer experimento para provar que não há amor no Tinder, escritora se apaixona, noiva e publica livro

Era março de 2020, início da pandemia da Covid-19, quando a farmacêutica Aline Minte, de 34 anos, moradora de Joinville, decidiu tomar uma peculiar decisão: provar por meio de uma experiência social que, de fato, no Tinder – aplicativo de relacionamento – não há a busca de um amor verdadeiro, mas, apenas, breves e fúteis encontros, incluindo os desastrosos.  O que ela não podia imaginar era que a experiência se encerraria quando, por meio do mesmo aplicativo, encontraria o grande amor da vida: seu futuro marido.

Aline Minte e Édson Camargo. O casal se conheceu no Tinder e estão com o casamento marcado para fevereiro do ano que vem. Foto/Acervo

Antes de iniciar a experiência, Aline bolou de forma estratégica um perfil super atraente e eclético. “Tinha a Aline aventureira, a Aline romântica, a Aline sensual…”, revelou. Foram quase dois anos que contabilizam “4.852 matchs que resultaram em dois amigos novos, quatro ficadas, 32 saídas aleatórias, uma fuga; 4.812 tentativas de conversas e uma desilusão amorosa”, contou a escritora.  Ah, e, claro, um pedido de casamento aceito.

Toda essa divertida e curiosa “aventura”, retratada em primeiro momento por meio de crônicas publicadas numa conta no Instagram, se resultou no romance: “Deu Match, e Agora?”, publicado nessa mês pela editora Voa, de Uberlâdia. A obra, em 200 páginas, retrata com detalhes todas as experiências vividas por Aline, através da personagem Mônica.

“Um tanto inexperiente na arte de flertar pela internet e se considerando um pouco velha para essa novidade, ela responde ao seu primeiro match esperando qualquer coisa, menos o convite que ele fizera. Sentindo-se insultada, ela escreve um pequeno texto sobre a experiência, expõe em suas redes sociais e, a partir daí, começa a encontrar várias pessoas que já vivenciaram as mais absurdas experiências com o aplicativo. Decide continuar a aventura de usar o Tinder para produzir conteúdo, divertir-se e divertir seus seguidores, que crescem a cada dia. Encontra todo tipo de pessoa e não espera em nenhum momento encontrar seu príncipe — o que, com mais de 30 anos, já deveria ter deixado de acreditar, né? Será que Mônica vai conseguir provar que não existe amor no Tinder?”, descreveu a escritora sobre sua personagem.

Capa do livro: Deu Match, e Agora? Da escritora Aline Minte. foto/Divulgação

Durante a pesquisa, Aline identificou uma padronização comportamental e física dos rapazes presentes no aplicativo, e a descreveu:

“Rapazes que se dedicam um pouco na biografia, fotos de viagens, beleza mediana ou menos. Normalmente, esses garotos têm um senso de humor mais apurado, o que é bem compreensível, eu também uso do humor para compensar minha falta de beleza óbvia;

Outro padrão é o do cara muito bonito. O metrossexual, mesmo. Maioria das fotos é de perfil, sempre tem a clássica na academia. Fotos de viagens internacionais;

Quando são médicos, ou estudante de medicina, tem fotos com jaleco e estetoscópio;

Se for modelo, estará descrito na bio a altura e a profissão. Esses não dão Match no meu perfil, e se o fazem, é por engano;

O desesperado! Você já o conhece. Porque ele está lá, sempre de prontidão, esperando seu dedo escorregar para o lado direito da tela, para brotar no seu chat com um maravilhoso: ‘Oi, linda! Essa saudação tem variantes, tais quais: ‘Oi, gata’; ‘Olá, minha flor’; ‘Bom dia, princesa’; e a preferência nacional que é: ‘Oi, meu anjo’. O perfil é composto por fotos dele com amigos, mas recortando os amigos. E se os amigos estiverem na foto, ele é sempre o mais desprovido de beleza;

Já dizia Quintana: ‘Há duas espécies de Chatos: Os chatos propriamente ditos, e os amigos que são nossos chatos prediletos´. Encontrei uma terceira espécie, Mário: os chatos intelectuais do Tinder”, listou. Outro personagem típico do aplicativo, segundo Aline, são os “véios da lancha”.

“Queimando a língua”

O livro já estava quase finalizado quando Aline, ou “Monica”, acabou se apaixonando pelo personagem Felipe. A escritora revela que cativou-se pelo rapaz e se entregou à paixão, de fato; porém, com o passar dos meses, observou que não era recíproco. “Eu gostei muito desse cara, mas ele me ‘engambelou’ de um nível…”, disse.

Espaço publicitário

“Para desencanar”, a escritora acatou os conselhos de uma amiga cabeleireira que começou a interagir com os matchs da amiga, se passando por ela. E foi aí que a história ficou mais interessante. A amiga encontrou uma mensagem não respondida do cantor Édson Camargo, de 36 anos, que havia interagido com o perfil de Aline em setembro. Já era final de novembro. Ela o respondeu e outra mensagem da parte dele surgiu no mesmo dia. A tréplica retornou com o endereço do Instagram de Aline.

“Quando ele passou a me seguir no Instagram, eu não sabia que tinha conversado com ele no Tinder, e ele era uma pessoa que respondia meus stories de trilha, perguntando os locais, elogiando as trilhas, nunca ficava ‘dando’ em cima de mim propositalmente”, contou, Aline, que não fez questão de segui-lo de volta, naquele primeiro momento.

Dezembro apareceu no calendário e, com ele, as férias de final de ano. Na companhia do filho, Aline organizou uma viagem para Foz do Iguaçu. Ao postar as primeiras fotos do passeio, a surpresa: “Você está na minha cidade natal”, revelou o rapaz à escritora que passou a observá-lo melhor. Ambos moravam em Joinville.

Ao mostrar o perfil de Édson para Miguel, seu filho, houve aprovação e o conselho para conhecê-lo, “pois ele era muito a minha vibe”, ouviu a mãe. Aline, então, passou a segui-lo e prestar mais atenção no seu perfil. As conversas se tornaram mais interessantes e um encontro foi marcado assim que ela voltou para Joinville.

“Eu conheci ele numa sexta de noite. No sábado, a gente não podia se ver, porque eu tinha compromisso, e a gente saiu no domingo, fomos para a praia. No domingo, a gente ficou. Ele dormiu na minha casa e daquele dia em diante nunca mais saiu, eu nunca mais deixei ele sair de lá. Acho que me apaixonei em tudo, sabe. Ele levantou e fez meu café da manhã, sendo que ele tinha me conhecido naquele domingo; já começou a me ‘mimar’ e me cuidar de um jeito que nunca ninguém tinha feito”, contou.

Aline afirma que “queimou a língua” ao tentar provar que não há amor no Tinder. Foto/Lays Saramento

Com o casamento marcado para fevereiro do ano que vem, a futura senhora Camargo afirma que foi refutada pelo próprio experimento, à medida que encontrou o grande amor de sua vida justamente enquanto finalizava a obra literária que iria provar uma certa futilidade do aplicativo.

“Claro que existe amor no Tinder, o Eddy (apelido do futuro marido) apareceu; meu irmão conheceu a Bruna – sua cunhada -, e várias outras pessoas que conversei depois. O livro queimou minha língua no finalzinho, na reta final. Nos 45 do segundo tempo, o Eddy apareceu, e chegou meu amor do Tinder,” finalizou.

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Texto/Herison Schorr

Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc

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