Esses dois comportamentos que sobressaem aos séculos de história tem algo em comum: as superstições que permeiam a morte
Em um dia de visitas ao lar dos mortos nas proximidades do Finados, pare para observar, principalmente, os mais idosos ao saírem do portão para fora do cemitério: muitos deles baterão os pés, o arrastarão no concreto sobre o chão como se quisessem tirar algo impuro das solas dos calçados. Outro fato interessante é que, raramente, você verá isso acontecer após às 18 horas, quando as visitas ao local não são encorajadas por eles. Esses dois comportamentos que sobressaem aos séculos de história tem algo em comum: as superstições que permeiam a morte.

Em uma entrevista ao Heris a professora Valdete Daufemback, mestre em história, conta que estes comportamentos resumem-se ao medo do que lhes esperam depois da vida, mesmo que ainda acreditem na salvação divina. Desta forma, o cemitério torna-se a terra da morte, contaminada por ela, cheio de energias de quem foi para lá. Bater os pés na porta do cemitério é para não levar o pó do local e, assim, não levar a morte para casa e as energias que estão em torno dela, muitas vezes, vistas como negativas.
“Acredita-se em almas penadas, estas que não encontraram o seu caminho e ficam presas na terra, perto do túmulo, vagando pelos espaços”, afirma Valdete sobre os estudos relacionados ao tema.
Outra questão que se relaciona com o sentimento de livrar-se das energias cemiteriais são as intensas lavagens de roupas após um funeral, com a intenção de não levar para dentro do lar a alma penada que pode estar na roupa.
De acordo com a professora, as pessoas acreditam que ao lavarem as roupas estão se livrando de energias negativas impregnadas nelas, como as energias do defunto, onde acredita-se que ainda não sabe que morreu e tenta ficar por perto do seu corpo. “Assim, passa – a alma – por várias pessoas”, destaca.
Para Valdete, se analisarmos bem, lavar a roupa significa se desfazer da tristeza que envolveu o momento do velório. Sempre que se passa por uma situação estressante se recomenda tomar um banho e colocar roupas limpas. “Isso ajuda a se distanciar das lembranças ou da experiência estressante”, enfatiza.

O fator primordial que leva as pessoas aos cuidados com o que leva do cemitério para casa, segundo a professora, é pelo fato do lar ser um local sagrado para elas, “por isso, qualquer energia negativa irá interferir na vida da família”.
Visitar o cemitério depois das 18h? Jamais!
Depois das 18 horas, ou seja, ao anoitecer, de acordo com as superstições de antigos, as almas penadas saem e vagam em busca de um corpo para se instalarem, como conta a professora de história.

Essas crenças, segundo ela, são muito próximas dos contos europeus ou nórdicos que inventaram a figura do vampirismo. “As almas penadas, ou no corpo de alguém, ou simplesmente como energia, ou alma perdida, seguem quem passa perto do cemitério e habitam a casa da pessoa desavisada. E é a noite que estes fantasmas se manifestam. Puxam o pé de alguém dormindo, fazem barulho na casa….”, explica. Outra questão interessante sobre a temática é a desvalorização de terrenos próximos de cemitérios, pois dificilmente alguém tem gosto em fazer vizinhança com a casa dos mortos.


Todas essas superstições, segundo a professora Valdete, está relacionado com a incompreensão do estado de morrer. “Morrer, para quem tem crença religiosa, é um enigma, mesmo acreditando que alma irá para algum lugar bom. Mas não se tem certeza, porque não há relatos das pessoas que morreram para contar como estão”, encerra.
Texto: Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc