Especial: Chamada de AMA, a iniciativa surgiu em março de 2018 e hoje colhe resultados por meio de doações de empresas privadas
Dando legitimidade ao velho ditado “a união faz a força”, um grupo de mães de autistas do município de Itapoá criou uma associação para buscar recursos de empresas privadas que financiam diversas atividades e desenvolvem a capacidade física e intelectual dos 17 filhos que, agora, tornaram-se alunos da associação.

Chamada de AMA, Associação de Pais e Amigos do Autista, a iniciativa surgiu em março de 2018, com apenas pessoas interessadas em fazer um evento temático sobre o autismo no mês de abril, como conta Elvira Lacerda da Luz, de 35 anos, presidente da associação. Ela conta que naquele período era recém-chegada a Itapoá e observou que ainda não havia iniciativas no município para a pessoa autista, como sua filha Isabela.

“Decidimos fazer esse evento em abril, e falando com uma pessoa e com outra pessoa o grupo foi crescendo. Quando vi, realizamos a primeira palestra sobre autismo no município”, lembra.
Elvira Lacerda da Luz, de 35 anos, presidente da AMA
Elvira conta que a intenção inicial do evento foi falar sobre autismo, porém, logo após a primeira palestra, as mães presentes decidiram que além de falar sobre o tema precisavam de um local para as famílias de Itapoá ter como referência, “pois sempre que precisamos de diagnóstico ou terapias, temos que recorrer às cidades vizinhas, pois, aqui, não temos atendimentos especializados oferecido pelo município”, destaca.

Atualmente, com 14 empresas parceiras da entidade, a presidente conta que o dinheiro doado, seja associado contribuinte, seja doação espontânea, é usado para pagar as despesas mensais da associação, como: folha de pagamento das profissionais, água, luz, seguro, material de limpeza, material para uso da terapia.
Por fim, havia o valor do aluguel do espaço que era usado pela associação, mas, segundo Elvira, a AMA recebeu uma casa em contrato de comodato cedida pela Comunhão Espírita Cristã de Itapoá, para usufruto da associação. Outras despesas gerais são de IPTU, cartório, manutenção, entre outras.

Para as empresas associadas, a entidade retribui com o adesivo “Sou amigo AMA Itapoá”, que é colocado no comércio. Outro benefício que a empresa recebe é a divulgação dela nas redes sociais da associação como sendo amigo da AMA.
Fernanda Aparecida Rodrigues dos Santos Tesluk, 35 anos, é uma das mães que fazem parte da associação. Em busca de uma melhor qualidade de desenvolvimento para o filho Caio, de 5 anos, diagnosticado autismo, a professora participou daquele primeiro encontro organizado por Elvira e, naquele momento, também reiterou a importância de uma entidade com este engajamento no município. “Eu disse que ajudaria no que fosse possível para o sonho acontecer”, conta.

De acordo com a mãe, Caio tem diversos problemas com a parte sensorial, mas, com o trabalho que a terapeuta ocupacional realiza na associação, o resultado é gratificante. “Também tem o lado social, pois, ao mesmo tempo que meu filho é atendido, também, através da nossa união, outras crianças são atendidas”, ressalta Fernanda.
A associação, segundo Elvira, também serve para as mães compartilharem suas histórias com os filhos, trocando, assim, experiências. Quando sua filha foi diagnosticada com autismo aos dois anos, foi, segundo a mãe, como se o futuro se tornasse uma folha em branco.
“Não temos como saber do futuro, mas podemos sonhar. O autismo me tirou essa opção, porque não tenho como pensar no futuro dela, não sei se um dia vai falar, se vai aprender a ler, escrever, namorar… Nada. Então, foi meio desesperador, eu sempre fui muito perfeccionista, planejava tudo na minha vida. O autismo mudou isso. Hoje, já aceito, mas quando obtive o diagnóstico duvidei, e precisei de terapia para lidar com o autismo. Quando engravidei, não pensamos que receberíamos um filho especial; quando ficamos sabendo, precisamos aceitar e aprender a lidar com o autismo e toda as limitações impostas. Passei por todos os estágios, como: negação, luto, e hoje a aceitação”.

A contadora Daniele Cristina Pereira Holz, 32 anos, faz parte de uma das empresas parceiras da AMA e cuida de toda a contabilidade da associação, como assessoria nas questões de cálculos e planilhas para projetos sociais, balanço, balancete e demonstrativos necessários. “Vamos sanando as dúvidas que vão aparecendo em diversas questões”, diz Daniele sem cobrar nenhum honorário pelo trabalho.
A profissional conta que conheceu o trabalho da entidade por intermédio de uma amiga que fazia parte da diretoria da AMA e lhe convidou para conhecer o grupo, o qual, a cativou e passou a contar com ela para auxílio em questões dos cuidados financeiros.

“Aceitamos a missão, pois acreditamos no projeto dessa associação, assim como nas demais. O fato de aceitar voluntariar nosso trabalho, deu-se ao conhecimento que temos de toda a trajetória que uma associação precisa percorrer para poder chegar a condição de participar de projetos sociais, receber apoio dos órgãos públicos, uma vez que, para cada tipo de solicitação de recurso, se exige um tempo mínimo de abertura de CNPJ, trabalhos desenvolvidos e resultados obtidos. A manutenção de uma associação de assistência social, de saúde, de educação, independente da atividade não costuma ser barata, então, se posso colaborar com meu trabalho sem onerá-lo, por que não fazer?”, instiga Daniele.
Daniele Cristina Pereira Holz, contadora

Com os conhecimentos adquiridos sobre o universo do autista, Daniele afirma que, para manter um grupo de profissionais que os auxiliam no desenvolvimento, há um alto custo, principalmente, quando estas crianças moram em cidades pequenas, como Itapoá, onde há poucos recursos de saúde para ampará-los.
“A AMA quer trazer estes profissionais até aqui e garantir que nossos autistas tenham o atendimento e atenção de qualidade que merecem, desta forma, apoiá-los significa dar condições para que a associação possa de maneira conjunta ajudar cada uma dessas famílias, proporcionar em um único lugar o atendimento que merecem e precisam, dando chance de tratamento as pessoas que não possuem condições financeiras para se deslocarem às cidades vizinhas”, diz.
A presidente conta que, hoje, a luta da associação é por um Centro Multidisciplinar Especializado para autistas e sua família, com o atendimento unificado de psicóloga, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional, além dos profissionais da área de diagnóstico: neuropediatra, para acompanhamento juvenil e adulto: psiquiatra, entre outros profissionais tão necessários como o psicopedagogo e nutricionista.

“Ainda temos um longo caminho pela frente, para termos um centro como o idealizado pela diretoria precisamos de muitos recursos financeiros, pois a folha de pagamento é o que mais pesa. Mas, assim como em março de 2018 iniciamos sem nada, apenas com a certeza que se fizéssemos a nossa parte o restante viria, acreditamos que tudo vai dar certo”, planeja confiante.

Para fazer parte das empresas parceiras da AMA, os interessados podem entrar em contato via Whatsapp pelo número (47) 99237-6115 que um membro da entidade fará uma visita ao comércio e levará a ficha de associado para ser preenchida.

O valor mínimo estipulado à empresa é R$ 20 mensal, sem limites para maiores valores. O dia e a forma de pagamento também será opcional, e pode ser por transferência para conta Sicredi ou CEF ou retirada por um responsável da AMA. “Este responsável é o mesmo que faz a ficha, para, assim, a pessoa saber quem irá passar no comércio retirando a doação no dia combinado”, informa a presidente.
Texto/Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc