O amor entre mãe e filho, da sagrada família do cristianismo, atravessa gerações e permeia a ligação cultural entre Araquari e São Francisco do Sul, pela fé católica. A ternura materna que perdura mesmo com o crescimento e afastamento do filho de seu ninho assemelha-se com a própria história dos municípios, como Araquari que desenvolveu-se no âmago de São Francisco do Sul, assim como Cristo no ventre de Maria, e é visitado por centenas de romeiros francisquenses devotos à Nossa Senhora da Graça, padroeira de São Francisco do Sul, para celebrar o dia em homenagem ao seu filho Senhor Bom Jesus, padroeiro de Araquari.

Vivenciando a celebração e devoção desse amor, Flávio André Friolin, 22 anos, morador do Rocio Grande, São Francisco do Sul, lembra de sua infância observando da janela de casa a passagem da romaria de Nossa Senhora da Graça. Mesmo nascido em um núcleo religioso distinto do catolicismo, foi batizado no dia da padroeira da cidade e, desde então, passou a cativar-se pela fé católica.
Após a morte do pai, em 2015, visitou uma novena pela primeira vez e, desde então, é membro do santuário. Convivendo, também, com a comunidade religiosa do santuário de Araquari, o jovem observa a ligação entre as duas comunidades, resgatando as lembranças do início das celebrações e a importância delas para o fortalecimento da fé e do amor maternal.
De acordo com Flávio, a tradição da romaria de São Francisco do Sul a Araquari é centenária, tornando-se nessa época do ano um momento de pedidos de graças e gratidão pelas recebidas. Para ele, a tradição é reflexo da ligação religiosa entre os dois municípios que um dia foram um só.

“Nós, francisquenses, somos um povo devotado à Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora da Graça, e essa história de ambos santuários tem uma ligação muito grande: primeiro que Araquari nasceu do nosso município; segundo, a paróquia de Araquari foi desmembrada da nossa. Os francisquenses sendo devotos da Mãe de Jesus, também tornam-se devotos dEle. A ‘Graça’ de Nossa Senhora é Jesus. Então na fé do povo francisquense, o amor que emana dos nossos corações por Maria, se consome e se termina em Jesus. É isso que deixa mais belo esse laço de união de ambas cidades e santuários”, explicou. Para Flávio, são esses os motivos primordiais que fazem os francisquenses manterem viva a tradição da romaria, seja a pé, quer seja de carro. “Mas, nós estamos lá, firmes e fiéis, ao Senhor Bom Jesus”, completou.
Ao acompanhar a fé exercida em Araquari, o jovem enfatiza a mútua relação de devoção ao Senhor Bom Jesus e à Nossa Senhora da Graça, participando das romarias rumo ao núcleo religioso da padroeira de São Francisco do Sul, como um regresso à casa da mãe que, na iconografia da imagem francisquense, carrega Jesus menino em seu colo. “É algo irradiante, que nos motiva a cada vez mais tornar essa comunhão mais forte e vivida de ambos santuários”, disse.

Flávio explica que os encontros das imagens históricas (nos meses de agosto e setembro), presentes nos santuários, não ocorrem anualmente, pois ambas são antiquíssimas, apresentadas juntas em ocasiões especiais. Elas são substituídas, como no caso da escultura do Senhor Bom Jesus, por uma imagem peregrina.
Fé e tradição de Araquari: a história do santuário
A fundação da Paróquia do Senhor Bom Jesus de Araquari remonta ao tempo do Império. Nessa época, Comarcas Eclesiásticas, com suas Freguesias, pertenciam ao bispado do Rio de Janeiro, na então província de Santa Catarina. Foi então em 2 de setembro de 1853 que o vigário “Collado”, da Vara de São Francisco do Sul, o padre Benjamim Carvalho de Oliveira, recebeu o encargo de estabelecer a Freguesia do Paraty e a Fundação da Igreja Matriz, que tinha por nome Senhor Bom Jesus do Paraty. Dois anos depois, em 4 de janeiro de 1855, o fato aconteceu, sendo o primeiro vigário o padre Joaquim Francisco Pereira Marçal.

Em 1887, demolia-se a primitiva Matriz para em seu lugar erguer a nova. O benemérito Joaquim Pereira Lima cedeu uma casa de sua propriedade para servir de Matriz provisória. Em 1957, em um edífio construído, passa a funcionar também a sede da Paróquia, aguardando que, dos alicerces lançados, surgisse a majestosa igreja, o atual Santuário Senhor Bom Jesus de Araquari.

Nesses 100 anos, a Paróquia esteve sob a jurisdição episcopal da Diocese do Rio de Janeiro (1825-1894), passando posteriormente para a Diocese de Curitiba (1894-1908), depois à de Florianópolis (1908- 1929). E quando criada a Diocese de Joinville, estabeleceu-se nela até os dias atuais. O Santuário Senhor Bom Jesus, atualmente é Patrimônio Cultural de Araquari.
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Texto: Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc