“Há dois anos, nunca tem água de dia, só de madrugada; e, às vezes, nem de madrugada tem”.
Estas são as falas da doméstica Zilma Borba, de 48 anos, moradora da rua São José, no bairro Itinga, em Araquari. Sua rotina é compartilhada por centenas de pessoas que também têm suas vidas alteradas devido a falta de abastecimento de água no município.
Zilma segue a conversa afirmando que na semana anterior à entrevista concedida ao Folha Norte SC ela e seus vizinhos ficaram quatro dias consecutivos sem água na torneira. “Com aquele calor”, enfatizou.
Na lavanderia, a falta de água é sentida quando a doméstica observa a pilha de roupas para lavar, sem uma gota na torneira; na cozinha, para preparar os alimentos, a história se repete; no banheiro, outro lamento: “Bem difícil tomar banho de caneca”, revela a moradora com a famoso ítem de banho nas mãos.
“Quando falta direto água tem que tomar banho assim, semana retrasada tomamos por quatro dias”, complementou a mulher que mora com mais duas pessoas e aluga uma casa nos fundos da sua, para mais cinco moradores.

De caminhão pipa a advogados: reivindicações
Zilma afirma que já tentou buscar por seus direitos, para fazer uso daquilo que é pago todos os meses; no último, R$ 86. Já acionou o Procon, advogados e até solicitou caminhão pipa, mas não obteve sucesso em seus pedidos. O que resta para a doméstica é comprar água, galões que variam em torno de R$ 60 em gastos mensais.
“Lavo minhas roupas em Guaramirim”
Michele Netto trabalha como profissional de limpeza em um hospital de Joinville e mora há três anos em Araquari. Nos últimos anos, acompanhou de perto as preocupações com a higiene para evitar a contaminação pela Covid-19. Um dos quesitos necessários neste processo é deixar suas roupas de trabalho limpas diariamente. Porém, não há água disponível todos os dias, no loteamento Airton Thomas, no bairro Porto Grande. Para Michele, há apenas duas saídas:
“Eu levo as roupas três vezes por semana para lavar em Guaramirim, levo de carro. O gasto com a gasolina aumentou muito e também o tempo que eu perco indo lá e voltando pra Araquari. O meu uniforme lavo todos os dias, pois trabalho no hospital na higienização do covid, uso a água que compro, encho uma piscina de plástico para poder lavar”, revelou.
Os gastos com a gasolina somam-se com o dinheiro investido em galões de água, necessário, também, para fazer a comida.
A hora do banho
A hora do banho para os filhos de Michele é normalmente na madrugada, quando chega um pouco de água na torneira. Às vezes, com a escassez, o banho costuma ser de banheira.

Mas, devido à contínua falta de água, outra forma de lavar-se já virou rotina na vida da profissional de limpeza que zela pela saúde da família, evitando a possibilidade de levar agentes de contaminação para dentro de casa: “Às vezes, tomamos banho no posto de gasolina; pago pra tomar banho”, disse. Outro local que costuma também tomar banho é no próprio trabalho.
Ações da Prefeitura
No dia 10 de março o prefeito de Araquari Clenilton Pereira reuniu-se com vereadores, secretários e com o chefe da Agência da Casan de Araquari, Valdeci Ferreira. Na reunião, o prefeito assinou a permissão da abertura de poços e a distribuição de caixas de água para as famílias que estão no cadastro único, como forma emergencial para amenizar o problema.

De acordo com o prefeito, o município de Araquari ainda depende da água que é fornecida por Joinville, pois não há estação de tratamento no município.
Clenilton também ressaltou a necessidade de ligar para a Casan de Araquari e registrar a falta de água pelo 0800 643 0195. O prefeito explica que este processo gera protocolos que auxiliam na elaboração de projetos.
Estiagem e crescimento populacional
Araquari consta, nos últimos anos, no mapa da estiagem de Santa Catarina. De acordo com o relatório, o município sofre com a considerada seca leve, que pode afetar no abastecimento de água, com o secamento de poços, algo que já ocorreu, como conta o chefe da Agência da Casan em Araquari, Valdeci Ferreira que também apontou outra questão:
“Enfrentamos ainda problemas com crescente demanda pelo crescimento expressivo do município. Muitos poços secaram e os moradores aderiram ao sistema da Casan”, afirmou.

O censo de 2010 do Instituto mostra 24.810 habitantes em Araquari e a estimativa de 2019, apresentou 38.129 habitantes. Um aumento de mais de 50% em nove anos.

Foto: Casan Araquari
Segundo Valdeci, para solucionar o problema de imediato, a Casan já está perfurando mais quatro poços profundos que devem amenizar consideravelmente os problemas que o município enfrenta.
Texto: Herison Schorr
Jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc
Siga o Folha Norte SC no Facebook receba mais notícias de Araquari e região!